Do barro ao aço, a linguagem poética de Eliete Vilela
- Marisa Melo
- 1 de nov. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 16 de mai.

Há esculturas que não apenas ocupam o espaço, elas o reorganizam. Eliete Vilela é uma artista que trabalha nessa zona de deslocamento, onde forma, movimento e matéria se entrelaçam para dar origem a algo que não se nomeia de imediato. Suas obras se revelam aos poucos, no gesto da curva, no silêncio da superfície, na pausa do olhar.
Natural de Prata, Minas Gerais, Eliete traz na alma a simplicidade do barro e a complexidade dos gestos. Formada em Artes Plásticas pela Universidade Federal de Uberlândia, ela iniciou sua trajetória moldando a cerâmica com mãos que já sabiam escutar o volume antes da forma. Com o tempo, esse gesto se ampliou. Vieram o concreto celular, o aço inox, a resina. Cada material trouxe uma nova pulsação, um novo desafio, um novo modo de respirar através da escultura.
Sua linguagem é marcada pela síntese. Linhas fluidas, figuras que sugerem movimento mesmo quando imóveis, uma quase musicalidade que ecoa nas obras como “Bossa” e “Dança Rítmica”. As formas não são literais, são evocativas. Há corpo, mas também há vento. Há abraço, mas também ausência. Eliete esculpe o instante que ainda vibra no ar, como se a escultura fosse o último traço do gesto antes de desaparecer.
Sua série “Beijo” é puro lirismo. Formas interligadas que não apenas se tocam, mas se tornam uma. É a abstração do afeto, da fusão entre dois seres que, mesmo esculpidos, parecem respirar o mesmo ritmo. Já em “Tango”, a elegância do movimento é contida numa anatomia alongada, quase arquitetônica, onde o equilíbrio e o desejo convivem no mesmo plano.
Eliete não trabalha para impressionar, mas para insinuar. Sua obra dialoga com o espaço sem dominar, mas também sem ceder. Ela encontra nos vazios, nas dobras e nos arcos um território fértil para a emoção. A leveza do aço inox é compensada pela solidez das formas. Há uma dança entre o industrial e o orgânico, entre o contemporâneo e o atemporal.
Suas esculturas habitam galerias, espaços públicos, coleções privadas e empresariais, mas parecem sempre pertencer a um lugar anterior ao lugar. São peças que poderiam estar no meio de uma praça, num salão silencioso ou no canto íntimo de uma casa. Eliete não cria para o pedestal, ela cria para o encontro. Seu trabalho é movimento que virou forma. Tempo que virou volume. Presença que virou arte.