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Colecionar é cuidar da memória: uma arte dentro da arte


Marisa Melo_2025
Marisa Melo_2025

Sempre acreditei que o que diferencia um objeto comum de algo memorável é o contexto em que ele é inserido. Um item solto pode parecer banal, mas quando ganha lugar em uma coleção, ele se eleva. Torna-se parte de uma narrativa. Não importa se é uma escultura rara ou um pequeno artefato do cotidiano, o que importa é o repertório, a escolha, o cuidado. Colecionar é dar sentido. É organizar o tempo a partir do olhar.

Foi assim que comecei, em 1995, com pequenas esculturas que atravessaram minha vida como sinais. Com o tempo, vieram os tapetes orientais, as pinturas de diferentes culturas, os objetos que me chamavam por algo que eu ainda não sabia nomear, mas reconhecia. Hoje, depois de mais de três décadas atuando no mercado de arte, entendo com clareza que uma coleção é feita de intenções. E cada peça escolhida com verdade passa a ter valor, simbólico, histórico e, sim, financeiro.



Uma coleção fala quando há coerência


Um bom colecionador não junta, ele constrói. Ele conhece o que tem, sabe de onde veio, por que está ali, o que representa. Ele lê a forma com profundidade e se interessa pela origem, pela técnica, pela memória contida em cada obra. E é isso que transforma a coleção em patrimônio, em referência.

Ao longo dos anos, observei que o mercado valoriza não apenas a raridade, mas a consistência. A obra solitária pode emocionar, mas é na companhia das outras, dentro de um núcleo pensado, que ela ganha densidade. Uma coleção bem formada fala de quem a construiu, do seu olhar e da sua visão de mundo. Ela se torna, por si só, um gesto de permanência.



Para os artistas, a importância de pensar em séries


É aqui que entra uma orientação essencial para os artistas de hoje. Se você deseja que sua obra entre em boas coleções, comece a pensar em séries. Crie com sentido, pequenos conjuntos com unidade estética. Não se trata de repetir fórmulas, mas de organizar sua produção de forma que ela possa ser compreendida, acompanhada e, sobretudo, desejada.

Séries numeradas, com proposta clara, chamam atenção. Elas revelam maturidade artística, visão de percurso, compromisso com a própria linguagem. E isso é o que os colecionadores observam. A obra deixa de ser uma imagem isolada e passa a ser parte de um pensamento visual em construção.



Valor se edifica com estrutura e intenção


O artista que deseja construir um legado precisa fazer escolhas conscientes. Uma boa técnica é apenas o início. A obra precisa ter acabamento, documentação, clareza de discurso. O colecionador, especialmente o experiente, percebe quando há estrutura. Ele reconhece o gesto seguro, a autoria verdadeira, o trabalho que foi pensado para durar.

Assim como eu conheço a origem de cada tapete, o artesão que o criou, a região onde foi feito, também busco compreender o lugar de onde vem cada pintura, cada escultura, cada criação que acolho. Isso faz parte do processo. E essa profundidade é o que confere valor real à coleção.



Investir em arte é investir em tempo e cultura


Colecionar é uma forma de investir. Mas não apenas financeiramente. É investir no tempo, no olhar, na cultura. Uma obra escolhida com critério não perde força, ela amadurece. Ela pode atravessar gerações e continuar dizendo algo essencial. E isso, quando somado à valorização do artista, transforma o colecionador em guardião de um acervo vivo, respeitado e, muitas vezes, valorizado no mercado.

Por isso, é tão importante que o artista compreenda essa dinâmica. Criar com intenção é criar com visão. É permitir que sua obra encontre espaço em coleções que não apenas a acolham, mas a fortaleçam.



Colecionar é eternizar aquilo que o tempo sozinho não preserva


Hoje, olho para minha própria coleção com gratidão. Cada peça foi escolhida por ressonância, por afinidade, por diálogo. Nenhuma está ali por acaso. E é essa sensação que desejo que os artistas cultivem em seu trabalho. Criem para serem lembrados, mas também para serem compreendidos, estudados, escolhidos como parte de algo maior, uma coleção que tem pensamento, consistência e sentido. Porque colecionar, no fim, é isso, uma forma de cuidar daquilo que merece permanecer. É construir um legado com o que há de mais essencial: o olhar atento, o gesto verdadeiro e a intenção de deixar no mundo uma presença que resista ao tempo.



Se esta leitura tocou algo em você, convido a seguir explorando o blog. Aqui, compartilho outros textos pensados para artistas, colecionadores e amantes da arte que acreditam no valor do tempo, da memória e do gesto com intenção.

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