Carla Paula: quando a abstração se abre à luz da fé

Vica Cruz - Acrílica sobre tela_50x70 cm

A mineira Carla Paula nos oferece uma pintura feita de recolhimento. Em suas obras, o que se vê é a superfície do que, de fato, se sente: há uma espiritualidade que não se impõe. Sua produção, dividida entre aquarelas sobre papel e pinturas em acrílico sobre tela, é atravessada por um mesmo fio condutor: a tentativa delicada de traduzir, aquilo que só se entende com o coração em silêncio.

Autodidata, Carla se formou na prática íntima, na experimentação, na escuta do próprio gesto. Não carrega títulos acadêmicos, mas algo talvez ainda mais raro: uma verdade interna que se expressa com simplicidade e coerência. Seu fazer artístico é, um registro, não no sentido documental, mas como uma entrega de fé, um modo de partilhar o que carrega em si.

Sua linguagem é abstrata, mas não se fecha no hermetismo do formalismo. Pelo contrário, é uma abstração aberta, sensível, porosa. Há leveza nas composições, mas também estrutura. A artista lida com contrastes sutis: texturas mais densas que convivem com transparências, traços que se insinuam sem delimitar completamente, cores que sugerem atmosferas em vez de representações.

A paleta que escolhe é quase litúrgica. Dourados, azuis, brancos e rosados se repetem como se fossem notas de uma oração silenciosa. Em certos momentos, essas cores evocam paisagens de dentro, paisagens que não precisam de nomes, apenas de contemplação. Não há elementos figurativos diretos, mas há formas que se aproximam da cruz, do templo, da passagem, da luz. Tudo ali respira sob a presença de algo maior.

E é justamente essa presença que sustenta o conjunto da obra de Carla: um senso de verticalidade que não se refere apenas à composição estética, mas a uma postura espiritual. Suas pinturas parecem feitas para acolher, para acompanhar quem busca um instante de pausa, para lembrar que a arte também pode ser lugar de oração.