Entre veios e sinais: a obra Minas Gerais, de Henrique Diogo
- Marisa Melo
- 18 de out. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 17 de mai.

Há artistas que pintam lugares, e há os que os invocam. Henrique Diogo, nascido em Poços de Caldas, é desses últimos. Sua obra Minas Gerais, acrílica sobre tela, 60x80 cm, não é uma paisagem, é uma frequência. Uma partitura vibracional onde cor, gesto e alquimia compõem algo que não se vê, mas se sente no corpo, como o cheiro mineral da terra molhada ou o calor que emana das pedras que guardam silêncio.
Henrique não trabalha com figuração tradicional. Sua linguagem é feita de símbolos móveis, de caligrafias inventadas, de movimentos que parecem registros de uma energia ancestral. Há algo de cartográfico, mas também de ritualístico. Minas Gerais não descreve a geografia do estado, mas redesenha seus fluxos invisíveis, suas veias de minério e seus rios sutis de energia. A espiritualidade atravessa a tela, não como tema, mas como método.
A paleta é um capítulo à parte. Os verdes, em múltiplas tonalidades, se entrelaçam aos ocres e amarelos como se a própria natureza estivesse sendo metabolizada em cor. É uma paleta que pulsa, que vibra, que dança. Sobre esse campo cromático denso, Henrique desenha com branco, não como luz, mas como escrita. São marcas, curvas, fragmentos de signos, como se ele tivesse captado uma linguagem esquecida da terra.
O branco não ilumina, ele revela. Cada traço é ao mesmo tempo superfície e profundidade, ornamento e código. Essa sobreposição quase hipnótica gera um efeito visual de pulsação, como se a tela respirasse. E, de fato, respira. Porque há uma vida ali que não se deixa reduzir a técnica. É gesto mediúnico, é canalização, é alquimia.
Henrique Diogo compõe como quem escuta. Suas telas são o registro visual de uma escuta profunda da terra, da matéria e do que as atravessa. Minas Gerais não é sobre um estado, é sobre um estado de ser. Um estado de sensibilidade expandida, onde o artista age como tradutor do que não pode ser dito em palavras.
“Henrique não pinta paisagens, ele decanta presenças. Sua arte é mineral, silenciosa e encantada. É Minas em estado de espírito.”–– Marisa Melo