"A Insustentável Leveza do Ser" de Marisa Melo

“A Insustentável Leveza do Ser”, representa minha versão das reflexões e considerações filosóficas da aclamada obra de Kundera. Onde me encantam as trilhas ainda não percorridas, os desafios e as rupturas que enfrentamos, em cada situação, a cada dia. Montando o quebra-cabeças de nosso ser, em contínua mudança, na busca por uma liberdade poeticamente associada à leveza. Trabalho a ousadia de traduzir conceitos em imagens.
Nesta coleção, a leveza ganha cor. E a ausência de cor representa o peso (que é a ausência da leveza). Metáforas se sucedem e compõem um mosaico de dualidades: O país onde a história se passa já não existe mais, dividido que foi em dois outros. O período em que a ação acontece, a Primavera de Praga, representa o contraste fugaz entre a sede de liberdade de um governo de intelectuais e a opressão castradora do invasor soviético. O fato de a União Soviética também não existir mais, vem lembrar o quanto tudo sempre muda.
As fronteiras, sempre tão artificiais, mostram que o próprio palco é uma ilusão. Os dilemas amorosos e sexuais traduzem vidas programadas, ideias preconcebidas, a valorização, ainda hoje, de uma herança emocional que nos ilude e nos faz buscar o que jamais nos completará.
Queremos nos sentir leves. Flutuar. Como São José de Cupertino, um santo italiano do século 17. Num êxtase quase contínuo, a conexão com o sagrado literalmente tirava seus pés do chão. Queremos, todos, ser livres. Mas, quanto livres? Do que, afinal, queremos tanto nos livrar?
Nossa leveza passa pela libertação de pesos, âncoras que nos imobilizam, cruzes que carregamos. Um peso social, religioso e político. Cabe somente a nós a decisão de largar tudo: os preconceitos, os dogmas, as ideologias. Toda a carga que, inconscientes, aceitamos de modo natural e passivo, por tanto tempo. No instante da libertação, nosso ser se eleva, e vai, como um balão, para uma dimensão em que esses pesos não têm valor, não têm importância. Onde o que vale é essa leveza, tão rara, tão “insustentável”, tão irresistível. Onde vale o quanto sonhamos, o quanto brilhamos. Num amor incondicional, que ignora fronteiras, partidos, teorias e tradições. E abraça tudo e todos, na certeza de que somos Um.