Reflexões sobre a Índia e as Águas de Mônica Ruggiero"
- Marisa Melo
- 4 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de jun.

"Índia e as águas"- 2024_50x70 cm - Óleo sobre tela
Como escreveu Ailton Krenak, "a natureza não é um lugar para se visitar, é o lugar do qual viemos". Essa perspectiva não apenas reposiciona a relação entre humanidade e meio ambiente, como também questiona a maneira como representamos e valorizamos o que é natural. É com esse entendimento que a obra Índia e as Águas, de Mônica Ruggiero, se apresenta: não como paisagem, mas como posicionamento. Um trabalho que atravessa a estética para tocar questões ambientais, culturais e sociais com clareza e densidade.
Na tela, a artista constrói uma narrativa visual sobre a relação entre o povo indígena e os rios. Com cores vibrantes e pinceladas enérgicas, Mônica organiza os elementos em composição para destacar a centralidade das águas na vida e na cosmologia desses povos. Os rios são tratados como entidade viva, essencial à sobrevivência e também ao pensamento ancestral. A obra rejeita a ideia da natureza como recurso e propõe uma visão onde ambiente e cultura são inseparáveis.
A figura feminina surge em estado de observação. Não se trata de uma imagem romântica ou idealizada, mas de uma presença atenta, enraizada. Ela não está ali como retrato individual, mas como síntese de uma experiência coletiva. Sua relação com o rio é de continuidade. Estão juntos no mesmo campo de existência.
A escolha cromática reforça esse vínculo. Os tons intensos criam tensão e dinamismo, ao mesmo tempo em que comunicam urgência. A pintura não se contenta em ser contemplada. Ela exige posicionamento de quem observa. Não se trata apenas de uma cena simbólica, mas de um recorte de uma realidade concreta, marcada por ameaças a ecossistemas inteiros e a populações que vivem em relação direta com a natureza.
Mônica transforma sua pintura em um ponto de alerta. Ao representar a mulher indígena em conexão direta com as águas, ela destaca a importância da proteção ambiental como uma questão de justiça histórica e cultural. A artista não fala de um futuro distante, mas de um presente ameaçado. É um chamado ao respeito, à responsabilidade e à valorização dos saberes que, por muito tempo, foram ignorados ou marginalizados.
Índia e as Águas é um trabalho que insere a arte no centro de uma discussão contemporânea urgente. Mônica Ruggiero posiciona sua pintura como ferramenta de visibilidade e afirmação, conectando estética e conteúdo com intencionalidade. A imagem que constrói não se encerra na tela: continua nas perguntas que deixa em aberto.