A expografia foi elaborada com precisão curatorial que busca mergulhar o espectador em uma experiência imersiva e multifacetada. Ao entrar no espaço expositivo, o público é guiado por dois ambientes que não apenas apresentam obras de maneira lógica, mas, sobretudo, amplia a narrativa proposta pela artista.
O primeiro ambiente é dominado pelas obras mais recentes, onde a artista explora a técnica óleo sobre tela. Este espaço é marcado por cores vibrantes, contrastes dramáticos e personagens cujos olhos enormes, quase saltando da tela, se tornam o centro da experiência visual. O visitante está imerso em um campo onde o fantástico se entrelaça com o psicológico, desafiando as fronteiras entre o real e o imaginário. O uso da luz e sombra, beleza e feiúra, e o embate entre o bem e o mal se revelam em cada cena e questiona o papel do indivíduo na sociedade contemporânea.
No segundo ambiente, o espectador é transportado para as múltiplas fases da carreira da artista que antecedem 2018, revelando sua evolução técnica e conceitual. Neste espaço, a transição entre a ilustração tradicional, feita com a simplicidade da caneta bic, e as intrincadas composições de arte digital, e óleo refletem a inquietação criativa que permeiam suas obras. A pluralidade de estilos é apresentada de forma coesa, reforçando o discurso crítico da artista, que desafia os clichês da cultura de massa e desconstrói arquétipos enraizados no imaginário popular. A integração das técnicas digitais com as analógicas destaca uma criadora em constante reinvenção.
Uma organização estrutural, assume o papel mediador essencial na experiência estética. Cada detalhe do percurso expositivo é planejado para transformar o ambiente em um palco narrativo, onde as histórias contadas por cada obra encontram ressonância emocional no visitante. A divisão em duas fases, distintas e complementares, guia o olhar, e convida o público a questionar seu lugar em uma sociedade saturada por imagens e símbolos.
Ao concluir o percurso, o espectador está imerso em uma riqueza emocional que cristaliza o diálogo estético proposto. Este momento se apresenta como um portal para a compreensão da linguagem autoral de Júlia Dalcastagné, uma assinatura que se impõe com vigor no panorama da arte contemporânea.
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